Texto base: Provérbios 4: 18-19
“A vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. Mas o caminho dos ímpios é como a escuridão; não conhecem aquilo em que tropeçam.”
A sabedoria
de Deus é um dos seus atributos santos, assim como o seu amor, justiça, misericórdia
e tantos outros, e o livro de Provérbios se propõe a falar dessa sabedoria.
Durante
vários anos o livro de Provérbios foi muito contestado. Não existe no livro
nenhuma menção aos grandes acontecimentos da história de Israel ou aos grandes
temas proféticos e, por este motivo, muitos chegam a questionar a inspiração
divina do livro. Ao contrário dessa opinião, devemos ter em mente que os
autores do livro de Provérbios, divinamente inspirados pelo nosso Senhor, estão
ensinando sobre a preciosidade da sabedoria de Deus, e como essa sabedoria convida
a viver para a glória dele.
Mas o que
são provérbios? São ditados curtos, criados observando a vida e o trabalho
diário. Dessa observância, os sábios tiravam conclusões e orientações que eram
ensinadas ao povo.
O costume de
usar ditados proverbiais no ensino não era uma prática exclusiva dos hebreus. A
Babilônia, o Egito e várias outras nações também utilizavam ditados para
transmitir orientações práticas para a vida. Mas, há uma diferença que fica
evidente entre a literatura de Israel, povo de Deus, para as demais nações
pagãs. A nação de Israel tinha o ensinamento do decálogo e das Leis do nosso
Senhor dadas a Moisés no Sinai, então, os provérbios dos hebreus eram
formulados com um princípio: O temor do
Senhor.
“O temor do Senhor é o princípio do conhecimento, mas os loucos desprezam a sabedoria e a instrução.” (Provérbios 1:7)
O temor do
Senhor e o cuidado para agradá-lo permeava pela vida desses homens sábios de
uma forma tão maravilhosa que, os provérbios formulados por eles, tinham em sua
mensagem a aplicação na prática das Leis do Senhor. Este era o princípio, e
isto diferenciava Israel de todas as outras nações do Oriente Antigo. A
proposta do livro era ensinar de uma forma que as Leis de Deus pudessem mudar o
pensamento, o coração, e moldar o comportamento daquele povo, e eles buscavam e
se dedicavam então a alcançar essa sabedoria.
Segundo o
prefácio do próprio livro, os provérbios foram escritos para se conhecer a sabedoria e a instrução; para se entenderem as
palavras da prudência; para se instruir em sábio procedimento, em retidão,
justiça e equidade; para se dar aos simples prudência, e aos jovens conhecimento
e bom siso.
Como isso serve para nós hoje? O início do
século XVIII foi marcado pelo surgimento do movimento intelectual chamado
iluminismo. O iluminismo entre outras coisas, dizia que o ser humano é capaz de
tornar este mundo melhor apenas pelo uso da sua razão, independente da direção
de outros.
Obviamente a
Palavra de Deus e, consequentemente a tradição reformada, discordam disso. O
intelecto humano por mais precioso que possa ser, é incapaz, longe de Deus, de
direcionar a vida aqui para um mundo melhor. Essa é a explicação do por que,
quanto mais evoluímos na ciência, na tecnologia e todo tipo de conhecimento, a
realidade do mundo parece ir de mal a pior.
Infelizmente
o iluminismo que nasceu no século XVIII deixou suas marcas, e muitos ainda acham
que pelos próprios esforços podem chegar ao conhecimento dos mistérios de Deus.
Paulo ao
escrever aos Coríntios em sua segunda carta, diz:
“Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, para os que se perdem está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” (2 Coríntios 4: 3-4)
O livro de
Provérbios está nos dizendo que esse conhecimento está perto! Ele nos convida a
buscá-lo, ele nos desafia a desejá-lo, a buscá-lo como uma joia preciosa, mais
do que o ouro! Ele diz que se necessário devemos dar tudo para alcançar essa
sabedoria. Mas, por que o livro usa esses
termos ao extremo e é tão importante encontrar essa sabedoria?
O conhecimento da sabedoria de Deus é o conhecimento do
próprio Deus. O conhecimento
de Deus não vêm do intelecto da razão como diz o iluminismo. Não vem de um
momento de euforia e emoção como diz a religião do século XXI. Não se conhecerá
a sabedoria de Deus nos livros ou em pesquisas na internet.
Paulo quando
escreve ao Coríntios no capítulo 2, em sua primeira carta, diz que a sua
palavra, e pregação, não consistiram em palavras persuasivas de
sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a fé
[deles, os coríntios] não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de
Deus.
Uma pessoa
pode saber muito sobre arquitetura e mesmo assim não conseguir erguer um
edifício. Alguém pode saber muito sobre automóveis, mas ser incapaz de
construir um carro. Da mesma maneira, alguém pode chegar a saber tudo sobre
Deus, e mesmo assim não conhecê-lo. É isso que Paulo está dizendo e é o que
ensina o livro de Provérbios. O conhecimento de Deus não pode ser alcançado pela
sabedoria humana.
Anselmo de Cantuária entendeu que sua intelectualidade era incapaz de levá-lo a Deus:
“Ó Senhor, encurvado como sou, nem posso ver senão a terra; ergue-me pois, para que possa fixar com os olhos o alto. [...] Seja-me permitido enxergar a tua luz embora de tão longe e desta profundidade. Ensina-me como procurar-te e mostra-me a mim, que te procuro, pois, sequer posso procurar-te se não me ensinares a maneira, nem encontrar-te se não te mostrares a mim.” (Proslogion)
Embora o
conhecimento humano tenha seu valor, o ensinamento bíblico é que este
conhecimento pela razão é incapaz de levar alguém ao reino celestial, pois não
possui essa habilitação. A sabedoria humana deve ser serva da glória de Deus, e
não colocar-se acima dEle.
Então, onde encontrar essa sabedoria? O habilidoso
autor de Provérbios, utiliza a personificação da sabedoria para ensinar como
buscá-la (8: 1-11). Ele diz que ela está clamando! Ela convida a todos os
homens! Ela está nas mais altas montanhas, está nos caminhos, nas esquinas,
está ao lado das portas, na entrada da cidade! Hoje, essa voz também clama!
Qual resposta temos dado? O salmista diz: Se hoje ouvir a sua voz, não
endureçais os vossos corações como no dia da tentação no deserto. Essa sabedoria
mais tarde também vem ao mundo como um atributo do Filho de Deus, a luz que
ilumina todos os homens, Jesus Cristo. O livro de Provérbios aponta para a
promessa do amor de Deus para os que buscam conhecê-lo.
Lewis, foi um jovem de uma inteligência brilhante que viveu
no século passado. Embora criado na igreja quando criança, ele se rendeu a
apreciar sua capacidade intelectual e tornou-se um ateu ainda cedo. Deus o
capacitou com uma inteligência acima do normal, e aquele jovem passou a
criticar as Escrituras de forma muito forte. Lewis passou a procurar a Alegria
em vários aspectos da vida e achava ser possível encontrá-la por meio da sua
razão, sem sucesso. Ele é conhecido como o mais relutante dos convertidos e, em
sua biografia diz assim:
“Aos 17 anos, Lewis confidenciou a um amigo cristão: ‘Não acredito em nenhuma religião. Não existe absolutamente prova alguma para nenhuma delas e, do ponto de vista filosófico, o cristianismo nem mesmo chega ser a melhor’. Quinze anos mais tarde, ele escreveria para o mesmo amigo, em tom bem diferente: ‘O cristianismo é Deus expressando-se a si mesmo por meio do que denominamos ‘coisas reais’ ... a saber, a real encarnação, crucificação e ressurreição. Essa reviravolta não foi como uma conversão na estrada de Damasco, foram necessários quinze anos para que Lewis mudasse sua opinião.” (DOWNING, David; CSLewis – o mais relutante dos convertidos; Ed. Vida)
Lewis
precisou abandonar sua intelectualidade, sua razão, e prostrar-se diante de
Deus. O conhecimento de Deus não é algo que conseguimos da noite para o dia.
Talvez nunca chegaremos ao conhecimento total do ser de Deus. Mas este é um
caminho que precisa iniciar em algum momento em nossa vida. Conhecer a Deus é
receber dele uma nova vida, que consiste não apenas em palavras ou em saber os
seus mandamentos, mas em uma vida de atitudes transformadas pelo poder de Deus,
que nos capacita com essa sabedoria, que vem dele mesmo, a fazer sua vontade.
O caminho dos justos é como a luz da aurora que
vai brilhando mais e mais, até chegar a ser dia perfeito. Este é o caminho de
todos que foram alcançados pela graça de Cristo. Andemos pois por ele, para a
glória de Deus.
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